SEJA PACIENTE
Justifino era
marido da Maroca e tinha três filhos: Justinho, jutifólio e justistico. Moravam
numa comunidade favelal do lado de um viaduto. Na verdade, a casa deles ficava
embaixo do viaduto.
Viviam uma
vida de pobre. Sabe como é uma vida de pobre? Nem eu. Gente fina, como era
conhecido Justifino, trabalhava de biscates, ou seja, fazia qualquer coisa por
dinheiro. Quando tinha o dito cujo, a prioridade era alimentar a família,
depois de tomar um trago no boteco, é claro.
Um dia,
começou uma obra do governo bem próxima da comunidade. Houve um ti-ti-ti.
Disseram que tirariam os moradores do local e que pagariam aluguel social para
todos. Foi uma euforia geral, mas logo acabou, pois a obra não interferiu na
comunidade e foi completamente gradeada ao seu redor.
Chegou o dia
da inauguração, todos foram convidados para o grande dia. Aquela obra era um
posto médico chamado de clínica da família. Não tinha problema, agora teremos
médico para nossos filhos, pensava D. Maroca.
A mulher deu
banho nos filhos, botou uma roupa quase nova, pegou o marido que estava no bar
e foram para a inauguração.
Conseguiram chegar
ao pátio da nova clínica, mas os seguranças não os deixaram entrar. A festa era
só para os convidados especiais, pois o prefeito estaria lá. Mesmo assim eles
ficaram felizes, iriam ver o prefeito de perto.
De repente
chegaram vários carros, muita gente, um grande tumulto e rapidamente o bolo de
gente entrou na clínica. Meia hora depois todos eles saem, entram no carro e
vão embora. Não viram o prefeito, mas agora sim a família pode entrar na
clínica da família.
Era tudo
bonito, novo e limpinho.
- Será que a
gente pode ser atendida aqui? Perguntou D. Maroca a uma moça vestida de jaleco
branco.
- Claro! Assim
que chegar médico a senhora e seus filhos poderão ser atendidos.
- E a que
horas ele chega?
- Assim que
algum interessar em trabalhar aqui.
- A senhora tá
dizendo que não tem médico?
- Tecnicamente
eu não estou dizendo nada, eu nem trabalho aqui. Me mandaram para cá para fazer
número durante a inauguração. Eu trabalho em outro posto.
- E quem pode
me dizer quando vai ter médico aqui?
- A senhora não
está entendendo... Médico é coisa rara. Me diz qual médico vai querer trabalhar
aqui neste buraco, fim de mundo e ao lado de uma favela onde tem tiroteio todo
dia?
Decepcionado,
Justifino puxou a mulher pelo braço e saíram de fininho.
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
Outras obras do autor:
Compra-se vida –
Ficção religiosa
Fragmentos de uma
vida – Autobiografia
Áxis a síndrome
sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde
em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore
de amigos - Infantil
Historinhas que
ninguém lê - Contos
O dia da minha morte
– Romance
Num piscar de olhos –
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Dívidas de gratidão –
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Senhor X – Romance
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