BULLYING
Joaquim era
uma criança raquítica, feia e tímida. Com seus dez anos de idade era alvo de
gozações dos colegas de turma escolar e vítima de atos covardes de um tal
Fernando, um garoto branco de bochechas vermelhas com algumas sardas. Joaquim
sofria diariamente com as agressões impostas pelo seu algoz. Um dia tinha seu
material jogado pelo chão, outro dia recebia pequenos tapas no rosto e tudo
isso em pleno ambiente escolar. Os apelidos eram variados de acordo com o humor
de Fernando: Melequinha, somália, bobão e tantos outros.
A vantagem
desta vida é que tudo passa. tudo tem sua fase e a fase de “esparro” de Joaquim
chegou ao fim. Ele cresceu, estudou, se desenvolveu e seguiu seu caminho. Por
anos ainda sonhou com os tristes momentos passados na escola.
Trinta anos se
passaram na vida daqueles meninos. Hoje todos são adultos, exceto por alguns
que seguiram caminhos tortuosos e já partiram desta vida. Com a timidez que
Joaquim tinha nunca mais viu nenhum dos colegas da antiga turma escolar,
certamente ele também não fazia questão de ver, pois lhe traria tristes
lembranças daquele tempo tenebroso.
Certo dia, já
com alguns fios de cabelo branco, Joaquim fazia seu trabalho diário quando
chamou pelo nome uma pessoa e isto lhe trouxe alguma lembrança.
- Senhor
Fernando Craveira, chamou o ilustríssimo juiz Joaquim.
Pois é,
Joaquim agora era juiz de toga e tudo. Diariamente julgava com absolvição ou
condenação àqueles que eram trazidos até ele.
- O senhor
está sendo acusado de agressão física. Como o senhor se declara?
- Eu sou
inocente, senhor juiz.
- O senhor
pode me contar a sua versão dos fatos, se não se importar? Solicitou o juiz Joaquim
lembrando exatamente de quem era aquele nome e reconhecendo naquele rosto um
pouco envelhecido a figura de seu algoz em outrora.
- Claro! Eu
estava no bloco de carnaval chamado “fogo na cueca” em Copacabana e fui chamado
várias vezes de branquelo por aquele homem que está sentado ali, apontou
Fernando para um rapaz jovem que estava sentado do lado esquerdo.
- E o senhor
se ofendeu pelas palavras proferidas por aquele indivíduo?
- Sim! Eu
estava acompanhado de uma garota e não ficava bem eu servir de chacota sem ter
nenhuma reação, o senhor não acha?
- Quer dizer
que você o agrediu por ele ter lhe chamado de branquelo e para você manter a
sua moral perante a garota que o acompanhava?
- É isso!
- Quer dizer
que se o senhor estivesse sozinho e fosse chamado, vamos ver... De Melequinha,
somália, bobão ou outros nomes o senhor não teria reagido, não é mesmo?
-
Provavelmente eu ficaria irritado.
- E partiria
para cima da pessoa que falava?
- Certamente.
- Qual é a sua
profissão, senhor Fernando?
- Sou autônomo.
- Fazendo o
que?
- Vendo
coisas.
- Entendi.
Antes de dar minha decisão sobre o caso, senhor Fernando, eu queria contar uma
historinha. Há trinta anos um rapaz praticava bullying numa escola pública, sem
imaginar que pudesse prejudicar a formação dos seus desafetos. Hoje este rapaz
não tem profissão e vive se metendo em encrencas.
Enquanto o
juiz discursava sua historinha, o réu olhava atônito para aquela autoridade à
sua frente. Ele sabia que era uma das suas vítimas no passado, porém não
lembrava quem era.
- Sendo assim,
Pronunciou o excelentíssimo juiz Joaquim, eu o condeno a fazer serviços
comunitários, específicos como palestrante sobre o tema “bullying é crime”, num
total de dez palestras em escolas públicas deste município.
Agora Fernando
tinha certeza que um dos seus desafetos tinha galgado posições jamais por ele
imaginado. A vida dá voltas.
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
Outras obras do autor:
Compra-se vida –
Ficção religiosa
Fragmentos de uma
vida – Autobiografia
Áxis a síndrome
sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde
em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore
de amigos - Infantil
Historinhas que
ninguém lê - Contos
O dia da minha morte
– Romance
Num piscar de olhos –
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Dívidas de gratidão –
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Senhor X – Romance
Um comentário:
Uma sentença inteligente e útil!!
Realmente, a vida dá muitas voltas...
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