O TREM



O TREM
 Central do Brasil, estação de trens com destino às várias regiões do Rio de Janeiro. Genésio aguardava na plataforma a composição que o levaria para a baixada fluminense. O placar indicava que o trem sairia a exatamente dez minutos atrás, ou seja,  um pequeno atraso para quem frequenta diariamente o transporte público no Rio.
Enfim o maquinista entra na sua cabine e aciona as máquinas do veículo. Testa o fechamento das portas e avisa ao alto-falante:
- Bom dia! Sou o condutor Arivaldo e este trem se destina a estação Japeri, com o tempo previsto de noventa minutos. Tenham uma boa viagem.
Tudo parecia bem, mas a composição não saía do lugar. Mais alguns minutos parados e veio um novo anúncio:
- Senhores passageiros, este trem encontra-se avariado e não dará a sua partida, por favor, desembarquem e aguardem uma nova composição. Repetindo, este trem não dará a sua partida.
Resignado pela falta de sorte, Genésio sai do trem e volta para a plataforma. Após cinco minutos de espera chega um trem que imediatamente desafoga milhares de pessoas na mesma plataforma. Genésio teve de se espremer num canto para dar passagem para tantas pessoas que passavam apressadas.
Com a plataforma livre, o pobre homem embarca no trem que tinha acabado de chegar. Não demorou e ele deu sua partida para surpresa dos passageiros. Com o atraso do horário, era possível que as estações já estivessem com muitas pessoas aguardando o trem para Japeri.
Primeira estação de parada, São Cristóvão. Uma montoeira de gente entrou atropelando tudo que tinha pela frente e em poucos segundos todos os lugares estavam ocupados. Para o infortúnio de Genésio, uma senhora resolveu se espremer ao seu lado. No lugar que só daria para uma pessoa bem magra, ela, com seus cento e vinte quilos, abriu caminho ao sentar. Espremido e incomodado com o mau cheiro que exalava da dita senhora, Genésio seguiu o seu destino.
A sua frente uma mulata com um microvestidinho, balançava a cabeça para movimentar os seus cabelos lisos à “mega-hair”. Genésio não notou, mas com aquele gogó, certamente não era uma mulata.
- Cerveja latão! Água mineral com ou sem gás!
- Cortador de unhas a um real!
- Balas com recheio de morango. Saco com dez.
Vendedores de todos os tipos e de todos os produtos azucrinavam a vida dos passageiros. Tinha também pedintes, como colaboração para a casa de acolhida aos dependentes de drogas e vendedores de CDs de músicas gospel.
De repente um homem levanta e saca uma arma:
- Vamos lá gente, isso é um assalto! Vamos passando tudo de valor.
Num trem para a baixada fluminense que só tem pobre, um indivíduo resolve roubar o que?
- Genésio?! É você cara? Disse o marginal se espantando com a presença do conhecido.
- Catraca! Que bom te ver, disse Genésio, como está a esposa?
- Bem! Você tem algum trocado para colaborara comigo?
- Você vai roubar o seu amigo?
- Veja bem, não é que eu queira te roubar, mas é para dar o exemplo para os outros, entendeu?
- Claro! Vou colaborar para o seu progresso, disse Genésio tirando uma nota de cinco reais e repassando para o assaltante.
- Valeu, meu amigo! Depois a gente se fala, gritou Catraca se preparando para descer na próxima estação.
- Catraca! Gritou Genésio num ato de vingança.
- Fala meu bom!
- É o seguinte, esta gorda aqui do meu lado escondeu o seu smartfone entre as mamas. Eu pensei que você gostaria de ter um.
- Claro! Passa para cá, sua obesa esperta, gritou Catraca com cara de mau.
Quando a porta estava para se fechar após a saída do amigo, Genésio ainda teve tempo de gritar para o amigo:
- Catraca! Da próxima vez vê se usa uma arma de verdade, essa de brinquedo já está descascando de velha.



Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor

Outras obras do autor:
Compra-se vida – Ficção religiosa
Fragmentos de uma vida – Autobiografia
Áxis a síndrome sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore de amigos - Infantil
Historinhas que ninguém lê - Contos
O dia da minha morte – Romance
Num piscar de olhos – Romance
Dívidas de gratidão – Romance
Senhor X – Romance



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