OS TRÊS PORQUINHOS


OS TRÊS PORQUINHOS

Era uma vez três porquinhos. Um deles era branco, o outro era preto e o terceiro era malhado. O porquinho branco era muito centrado, inteligente e organizado. O porquinho preto era o oposto do branco, adorava farra e bebedeiras, vivia para o mundo. Já o porquinho malhado ficava no meio termo, porém era sovina e só queria levar vantagem em tudo.
Estes três porquinhos eram irmãos e viviam juntos, apesar das diferenças. Certo dia eles ganharam na loteria e resolveram que cada um cuidaria da sua própria vida.
O prêmio que cada um ganhou não era muito, mas cada um gastaria como bem entendesse. O porquinho malhado resolveu gastar a metade do dinheiro comprando um apartamento em um conjunto habitacional do governo, chamado “minha casa, tinha vida”. O resto do dinheiro ele usaria para fazer empréstimo como agiota, ficaria rico, pensava o porquinho malhado.
O porquinho preto, como não se preocupava com nada, comprou um barraco bem barato na favela do “rato molhado” e o restante do dinheiro ele gastaria com farras, churrascos e muitas porquinhas.
Já o porquinho branco resolveu investir num terreno mais alto que a rua, num bairro bom. Comprou material e ele mesmo construiu a sua casa de alvenaria, não ficou um palácio, mas era de boa qualidade e espaçosa.
O tempo foi passando e os irmãos porquinhos quase não se viam mais, até que os problemas começaram a aparecer.
Na favela do “rato molhado” o tiroteio era diário, quer dizer, de noite e de dia. No princípio o porquinho preto não ligava, pois vivia na farra. Certo dia ao voltar para casa, ficou sabendo que a favela estava se queimando devido uma vela acessa na casa de alguém. Não deu outra, a casa do porquinho preto, ou seja, o barraco foi um dos que foi consumido pelas chamas e, como ele tinha gasto todo o dinheiro com as porquinhas na farra, estava duro. Desolado ele correu para se abrigar na casa do porquinho malhado.
Assim que o porquinho preto chegou no conjunto habitacional em que o irmão morava, pode ver que o irmão estava se mudando. Logo que foi morar no apartamento recém-comprado, o porquinho malhado notou rachaduras nas paredes que aumentavam a cada dia. Pegou parte do dinheiro que tinha sobrado e reforçou as paredes do apartamento. Poucos meses depois recebeu a visita inesperada dos milicianos que vieram lhe cobrar. Taxas, pedágios e outros serviços eram cobrados dos moradores do lugar. O porquinho malhado disse que não pagaria nada a ninguém.
Agora o porquinho malhado estava sendo expulso de seu apartamento e ainda teve de gastar o resto do dinheiro para não acabarem com ele. Junto com o irmão que acabava de chegar, foram em busca de morada na casa do terceiro irmão.
Assim que chegaram à casa do porquinho branco, ficaram admirados com a construção do irmão.
- Eu disse para vocês investirem o dinheiro em algo sólido, disse o porquinho branco.
- Você comprou um barraco e gastou tudo com farra, falou olhando direto para o porquinho preto que estava de cabeça baixa.
- E você, foi comprar apartamento do governo federal? Pensou o que? Deu no que deu, falou agora com o porquinho malhado.
Muito desapontado o porquinho branco aceitou que os irmão, ficassem com ele.
Veio a chuva e alagou toda a rua, porém a casa em que estavam não foi atingida. Veio o vento e a casa de alvenaria nem se abalou. Começou a haver assaltos e tráfico de drogas no bairro e logo foi instalada uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Os porquinhos viveram juntos naquela casa de alvenaria por mais alguns meses e, como a maioria da população, engordaram.
Vocês podem estar pensando: Cadê o lobo mau dessa história? Nos dias de hoje o lobo mau se disfarça de várias maneiras.
Num belo amanhecer do dia, a casa estava vazia, os porquinhos não estavam lá. Era véspera de natal e os três porquinhos tinham sido abatidos e estavam agora em exposição no açougue da esquina.
Na verdade eles não foram abatidos, os três porquinhos morreram de diabete e hipertensão, pois os médicos estrangeiros no país, com seus grossos charutos, não sabiam tratar porcos, só burros.

Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
Outras obras do autor:
Compra-se vida – Ficção religiosa
Fragmentos de uma vida – Autobiografia
Áxis a síndrome sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore de amigos - Infantil
Historinhas que ninguém lê - Contos
O dia da minha morte – Romance
Num piscar de olhos – Romance
Dívidas de gratidão – Romance
Senhor X – Romance


Nenhum comentário: