O PROBLEMA É A MAMÃE



O PROBLEMA É A MAMÃE
  Estênio era um rapaz franzino e naquele momento ele estava de olhos arregalados quando a namorada, Amarilda, disse que ele tinha de pedir oficialmente ao seu pai para poder namorar com ela. Ariovaldo, o pai da moça em questão, era um paraíba com cara de bravo e uma pequena cicatriz no queixo, que ele dizia ter ocorrido numa briga com três capanga do “coroné” Tibúrcio lá no sertão.
O pretendente a namorado tentava evitar o confronto com o pai de Amarilda, mas ela o ameaçou de terminar o namoro se ele não fosse falar com seu pai.
- É tudo ou nada, exclamou a moça indignada com a covardia do jovem.
- Mas meu amor, dizem que seu pai já matou vários homens...
- E daí? Você tem que mostrar pra ele que é cabra macho.
Não havia meio de fugir daquele compromisso e Estênio colocou a sua melhor calça jeans, uma camiseta preta com uma caveira estampada e suas novas havaianas. Tocou a campainha da casa da namorada e ela veio abrir a porta.
- Pelo amor de Deus, Estênio, tira esse brinco porque se não meu pai te mata aqui mesmo.
Agora o jovem suava por todos os poros e suas pernas tremiam, não conseguia nem entrar na casa do futuro sogro.
- Entra logo que meu pai já está te esperando.
- O que você disse para ele?
- Que você vinha aqui para conversar com ele e pedir para me namorar.
- O que é que eu devo falar?
- Sei lá! Diz que você é um bom garoto, que estuda e trabalha, que não usa droga... Estas coisas.
Aos empurrões o rapaz foi levado até a sala onde o senhor Ariovaldo estava lendo um jornal.
- Pai, este é Estênio, o rapaz que eu falei.
O homem levantou os olhos do jornal e com um pequeno aceno de cabeça mandou a filha sair da sala. Lentamente o jornal foi dobrado e colocado sobre a mesinha de centro.  Com um aceno de mão indicou ao rapaz para que se sentasse a sua frente. Estênio estava anestesiado. Por um momento parou de tremer e respirando fundo quase correu para se sentar no local indicado.
- Eu sou o senhor Ariovaldo dos Santos, pai da Amarilda. Ela me disse que você queria falar comigo.
- Bem... É que eu... Sabe...
- Você tem quantos anos Estênio, perguntou o homem docemente.
- Eu tenho dezenove anos, conseguiu falar o jovem relaxando um pouco mais.
- Dezenove? Uma idade interessante, muitos hormônios aflorando... Mas o que é mesmo que você quer falar comigo?
Enchendo o peito de ar o jovem falou de uma tacada só:
- Eu vim para pedir ao senhor para namorar com sua filha.
- Muito bem, disse o homem com um sorriso malicioso no rosto, vejo que você é um rapaz de coragem e muito sortudo, pois outros que tentaram me enganar tiveram o destino, vamos dizer, cortado pela esperteza.
Enfiando a mão por sob a poltrona, o senhor Ariovaldo pegou uma pequena machadinha e colocou sobre a mesinha de centro. Os olhos de Estênio quase saíram de órbita, sua respiração parou e ele ficou olhando fixamente para o instrumento sobre a mesinha.
- Isto é apenas um dos meios que já usei contra pessoas que tentaram me enganar, falou o homem entre os dentes, não gosto de gente abusada e muito menos de ver minha filha sofrer por quem quer que seja. Você parece um jovem de família. O que é que você faz na vida?
- Sou Estudante e trabalho um período como ajudante de escritório.
- Bom... E quais são as suas pretensões com a minha filha?
- A gente vai se conhecer melhor e quem sabe um dia se casar.
- Só tem uma coisa garoto, minha filha é virgem e se alguma coisa acontecer com ela antes do casamento, rosnou o homem pegando a machadinha sobre a mesinha de centro e a olhando bem de perto, você poderá se arrepender muito de ter vindo aqui, entendeu?
- Sim, Sim senhor. Entendi.
- Pois bem, já que estamos entendidos, você está autorizado a namorar a minha doce filha Amarilda. Amarilda! Gritou o homem para dentro da cozinha, vá passear com o seu namorado, pois tenho muita coisa para fazer.
Com o olhar desconfiado a moça pegou o rapaz pela mão e o levou para fora de casa. Ele ainda suava, mas estava mais calmo, sua respiração normalizava lentamente.
- Tudo bem com você? Perguntou a moça.
- Tudo.
- E aí, o que você achou do velho? 
- O que eu achei? Ele me ameaçou com uma machadinha que parecia ter sido usada recentemente.
- Machadinha? Há, você não viu nada, pior é minha mãe que tem uma Colt 45 carregada na gaveta da cozinha e uma Uzi dentro do fogão.


Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor

Outras obras do autor:
Compra-se vida – Ficção religiosa
Fragmentos de uma vida – Autobiografia
Áxis a síndrome sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore de amigos - Infantil
Historinhas que ninguém lê - Contos
O dia da minha morte – Romance
Num piscar de olhos – Romance
Dívidas de gratidão – Romance
Senhor X – Romance

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