A LEI DA PALMADA



A LEI DA PALMADA
 Zezinho era um moleque esperto e muito arteiro, vivia azucrinando a vida dos outros. A vizinha, dona Celina, todo dia reclamava com a dona Vera, mãe de Zezinho.
A cada reclamação que chegava dona Vera repreendia o menor. Seu Juarez, pai de Zezinho, era um português muito grosso e severo, trabalhava como vendedor viajante e deixava a criação do filho a cargo de Vera, sua esposa.
Na escola o danado do garoto ouviu falar da tal lei da palmada e resolveu questionar a professora:
- Fessora, é verdade que tem uma lei que não deixa os pais da gente bater em nóis?
- Na verdade Zezinho, esta nova lei se refere às agressões físicas e morais que os responsáveis pela criação do menor não devem praticar.
- Quer dizer que a polícia pode prender os adultos se eles baterem na gente?
- É mais ou menos isso Zezinho. As leis consideram que as crianças estão em formação e não devem ser agredidas e sim orientadas. Nos casos de descumprimento da lei, o responsável pela agressão pode ser preso, sim.
Aquilo era tudo que o pobre diabo queria saber, agora ele saberia como lidar com a sua mãe. Assim ele arquitetou um plano para fazer com que a sua mãe não mais batesse nele.
A primeira coisa que fez foi pegar uma filmadora e assim que seu plano estivesse em andamento, ele a colocaria para funcionar. Aguardou o dia em que a mãe estivesse com TPM e teria certeza que o plano funcionaria.
Zezinho preparou tudo e quando a mãe estava na cozinha ele pegou sua bola e foi para a sala. Estrategicamente ele jogou a jarra de flores no chão que espatifou fazendo um barulho infernal de vidro quebrado. A mãe lá da cozinha gritou:
- Zezinho! O que está acontecendo aí?
O diabo do menino imediatamente acionou a câmera que estava sobre um móvel e a apontou para o local onde ele representaria. A mãe entrou furiosa e encontrou o menino com a bola na mão e uma cara de santinho.
- Seu filho de uma quenga, eu já não te falei para não jogar bola na sala, olha só o que você fez com o vaso de flores que ganhei da sua avó.
O vaso jazia em inúmeras partes por toda a sala e Zezinho agora fez cara de choro.
- Desculpa mãe, foi sem querer.
- Sem querer? Você vai ver o que é bom para criança bagunceira.
Aquelas foram as últimas palavras da furiosa senhora antes de iniciar a surra no pequeno Zezinho. O menino gritava, porém fez tudo para se manter dentro do campo de ação da filmadora. Ele pedia desculpas, jurava que não faria de novo, mas a surra foi completa.
- Agora vai para o seu quarto e trata de ir estudar, pois está de castigo a semana toda, decretou a mãe se dando por satisfeita.
Era tudo que o menino queria, agressão física, moral e castigo. O plano tinha dado certo. Assim que a mãe voltou para a cozinha, o menino retornou à sala e recolheu a filmadora. Agora era só colocar no computador e fazer a chantagem.
- Mãe, falou o menino a noitinha, eu tenho uma coisa para falar.
- Fala logo que eu quero ver a minha novela.
- Sabe aquela surra que a senhora me deu hoje pela manhã?
- Porque, você quer outra?
- Não mãe, a senhora nunca mais vai me bater.
- O que é que você está dizendo?
- É que existe uma lei chamada lei da palmada e todo adulto que bater numa criança, vai preso, a senhora sabia disso?
- Eu ouvi falar, mas eu sou sua mãe.
- A surra que a senhora me deu hoje foi gravada e está no computador.
- O que você está querendo dizer seu moleque?
- Que se a senhora tentar me bater de novo, eu vou colocar o filme no you tube e o mudo todo vai ver o que a senhora fez comigo. A senhora vai ser presa... Na cadeia.
- Você não teria coragem...
- Eu tenho, pode apostar, falou o encapetado do menino ligando o vídeo para mãe ver que era verdade o que ele falava.
Durante toda a semana a pobre mulher ficou sem saber o que fazer, as queixas sobre o menino se avolumaram e ela se sentia de pés e mãos amarrados. Zezinho se sentia o rei naquela casa, a mãe estava sobre o seu domínio, porém...
- O que é que está acontecendo nessa casa? Falou seu Juarez entrando na sala e vendo a mulher amuada num canto, foi só eu chegar de viagem e ouvi várias queixas dos vizinhos antes de entrar em casa.
- É o Zezinho marido.
- O que foi que ele fez dessa vez?
- Ele me ameaçou com a lei da palmada.
- Lei da palmada? Mas o que é que você está falando?
- Ele me filmou batendo nele e me ameaçou de colocar o vídeo na internet se eu bater nele de novo.
- Ele fez o que?
Furiosamente o homem entrou no quarto do menino e antes que ele pudesse falar alguma coisa, seu Juarez jogou o computador no chão e o quebrou em várias partes. O menino arregalou os olhos e viu que alguma coisa tinha dado errado no seu plano.
- Isso aqui, disse o homem para o menino ainda pisando nos restos do computador, é para você saber quem manda nessa casa.
O menino tentou sair correndo do quarto, porém foi facilmente agarrado pelo pai.
- E isso aqui é para o governo saber que quem te dá de comida, casa, roupa lavada e educação sou eu, gritou o homem dando umas palmadas na bunda do filho.
Depois daquela surra Zezinho passou a se comportar bem melhor e entendeu que no nosso país nem todas as leis devem ser cumpridas.



Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor

Outras obras do autor:
Compra-se vida – Ficção religiosa
Fragmentos de uma vida – Autobiografia
Áxis a síndrome sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore de amigos - Infantil
Historinhas que ninguém lê - Contos
O dia da minha morte – Romance
Num piscar de olhos – Romance
Dívidas de gratidão – Romance
Senhor X – Romance



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