O
CANDIDATO DO POVO
Alguns anos
atrás, Chico Francisco resolveu se candidatar a um cargo político na cidade.
Ele não era um cara bonito e nem simpático, mas tinha fé na sua capacidade de
convencer as pessoas.
Como Chico não
era bobo, procurou saber as regras para se candidatar. Filiou-se a um partido
nanico e fez as contas:
- Com dois mil
votos eu sou eleito como primeiro do meu partido.
- Mas meu
amor, nós não temos como bancar uma campanha, dizia sua mulher preocupada em
passar fome.
- Nisso, deixa
que eu cuido.
Realmente ele
era um cara que se virava. Conseguiu carro de som, fez santinho, apertou a mão
das idosas na favela, beijou crianças encatarradas e fez até comício.
- O bairro
nosso vai mudar com a minha eleição, dizia Chico Francisco em cima de um
caixote como se fosse um palanque.
- Prometo
resolver os problemas dessas ruas cheias de buracos. Nossos filhos não vão mais
pisar em poças dágua. Prometo cuidar de tudo, conservar as ruas novas e… Tapar
os buracos das velhas.
- Xiii! Pegou
mal esta fala, resmungou o pinguço do lado do botequim.
O homem estava
elétrico, não parava nunca. Era reunião no partido, comício na creche, tomar
cafezinho no boteco, fumar “umas” com os cracudos, ou seja, Chico Francisco já
tinha certeza da vitória. Ele até pintou uma faixa usando uns sacos de sessenta
quilos usados para carregar milho, a faixa dizia: Chico Francisco, meu
candidato meu amigo.
Chegou o dia
da eleição e o candidato do bairro era só sorriso. Com sua bicicleta, fazia
transporte ilegal de eleitores para os locais de votação. Era um cara esperto,
tinha aprendido tudo sobre como ganhar uma eleição.
Quem estava
sofrendo era seu filho Madalochico que tinha que ficar distribuindo santinhos
feitos na xérox da esquina, além daqueles que sua irmã Francislena tinha
providenciado no mimeógrafo a álcool da escolinha que trabalhava. Chico
Francisco era tão bom em convencer as pessoas que conseguiu fazer até a sua
mulher praticar boca de urna na entrada da igreja, onde tinha uma seção eleitoral.
O homem estava
tão atarefado com a sua campanha que até se esqueceu de, ele mesmo, ir votar.
Assim que lembrou já era tarde, mas ele nem se preocupou, teria tantos votos
que poderia até eleger um outro candidato do partido.
Encerrada a
votação, dava-se início a apuração dos votos. Chico Francisco estava tão
confiante, que até já estava procurando um lugar para ser seu escritório
durante os quatro anos que teria pela frente. Aqueles que ajudaram na campanha
seriam seus assessores, sua mulher seria sua secretária... Melhor não,
contrataria uma loira sensual para a função.
Assim que
terminou a apuração, o futuro político eleito buscou uma cópia do resultado e
qual não foi a sua surpresa quando não viu o seu nome entre os candidatos
eleitos.
Chico
Francisco entrou em desespero, não era possível que não tivesse o número
suficiente de votos para ser eleito. Procurou na lista que tinha em mãos o seu
nome e ficou pasmo quando o encontrou. Estava em último lugar. Nenhum voto
constava em seu nome. Ninguém votou nele, nem os amigos, nem as velhas, e nem
mesmo sua esposa.
Para concluir
esta desgraça, além dele não ganhar nada, dar adeus às mordomias de um político
eleito e também à loira sensual, ele ainda vai ter de pagar multa por ter
faltado à eleição.
Este texto faz parte do livro HISTORINHAS QUE NINGUÉM LÊ, para
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e ajude o Grupo Missionários da Saúde em suas ações sociais em comunidades
carentes
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
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Compra-se vida –
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Fragmentos de uma
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