MAU QUE NEM UM PICAPAU
Roberval tinha fama de
mau. Era um cara esperto e ninguém o passava para trás, a não ser sua namorada
que todos sabiam ser uma ratazana. Vez por outra ela saia do buraco para
experimentar outras tocas.
Roberval juntou uma
grana e comprou um belo carro. Parecia uma Ferrari, vermelha, capota
reversível, estofamento em couro, rodas de magnésio e outras frescuras. Estava
na cara que aquele carro era roubado, mas Roberval não queria nem saber. Todo
dia tirava seu carrão da garagem improvisada num terreno baldio e saia para
passear coma sua ratazana, digo, namorada.
Certo dia um moleque
perguntou se ele queria que lavasse seu carro, pois precisava ganhar algum
dinheiro. Com cara de mau, o proprietário daquela raridade deu um cascudo no
moleque, dizendo que naquela preciosidade ninguém botava a mão. O menino saiu
resmungando e fazendo promessas de vingança.
Dois dias depois,
quando o valentão foi pegar seu possante na garagem para dar uma volta, teve
uma grande surpresa: o carro estava sobre um caixote e faltavam as duas rodas
dianteiras. Ele ficou um vulcão, explodiu, xingou e prometeu matar quem tinha
feito aquilo.
Por dias Roberval
procurou descobrir quem tinha surrupiado suas lindas e raras rodas de magnésio,
mas foi em vão, não descobriu quem foi e muito menos onde elas foram parar. A
ratazana até fez contato com as outras comunidades para ver se encontravam as
peças preciosas, mas seus amantes, quero dizer, contatos, não sabiam de nada.
Assim o malvado teve de
improvisar, colocou rodas normais no seu veloz até poder arrumar substitutas.
Novamente o moleque
pediu para lavar o carro, entretanto o homem estava de coração partido e deixou
o menino passar uma água na lataria. Feliz, o moleque, quando acabou o serviço,
disse que sabia onde encontrar rodas iguais àquelas. O homem brilhou os olhos,
estaria salvo. O menino disse que na feira de Acari era só procurar o
Teocleciano, um negão do tamanho de um armário, que ele arrumava qualquer
coisa.
Roberval pegou sua
quase Ferrari e foi no domingo na tal feira, lá foi fácil encontrar o
indivíduo. Explicou como eram as rodas que queria e de imediato Teocleciano
falou pelo rádio com seus contatos. Após alguns minutos veio a resposta, também
pelo rádio, de que tinham sim a encomenda. O malvado sorriu e disse que
esperaria chegar o pedido comendo um pastel com caldo de cana na barraca ao
lado.
Levou uns dez minutos e
chegou um magricela carregando as duas rodas de magnésio encomendadas por
Roberval. O homem ficou superfeliz, elas eram iguaizinhas as originais. Pagou
pelo serviço e saiu arrotando o caldo de cana.
Agora sim ele poderia
respirar melhor e curtir sua belezura de carro. Carregava as rodas nas mãos com
uma felicidade enorme, que só acabou quando chegou ao local onde tinha
estacionado seu possante: seu carro estava sobre um caixote sem as duas rodas
de magnésio traseiras.
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
Outras obras do autor:
Compra-se vida –
Ficção religiosa
Fragmentos de uma
vida – Autobiografia
Áxis a síndrome
sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde
em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore
de amigos - Infantil
Historinhas que
ninguém lê - Contos
O dia da minha morte
– Romance
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Senhor X – Romance
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