O
MUNDO VAI ACABAR
Madalocilena
estava cheia de morar naquele lugar, nada acontecia, não tinha Shopping e não
tinha praia. Por vezes tentou convencer o marido Chiquinho a mudar de cidade,
porém ele tinha nascido ali e todos o conheciam.
Entretanto um
episódio aconteceu na vida do casal e certamente suas vidas não seriam mais as
mesmas.
Chiquinho
andava diferente ultimamente. Acordou um dia dizendo que tinha sonhado com
anjos e que quando acordou, os anjos continuavam a falar com ele.
- O mundo vai
acabar, dizia Chiquinho a todo instante.
Madalocilena,
sua esposa, já estava ficando preocupada, pois o marido já estava passando dos
limites. Outro dia ele fez um cartaz e foi para a rua principal do bairro. O
Cartaz dizia: O FIM ESTÁ PRÓXIMO.
- E aí
Chiquinho, aloprou de vez? Falou um conhecido seu.
- O mundo vai
acabar, o fim está próximo, respondeu o homem sem se preocupar com as
brincadeiras.
Aos poucos,
pessoas foram se aproximando e no final do dia uma multidão seguia Chiquinho
que agora era chamado de profeta.
- Profeta,
acredito que o mundo vai acabar, mas quando será?
- Em breve,
meu amigo, em breve.
- O que
precisamos fazer para sermos salvo no fim do mundo, mestre profeta?
- Deem tudo
que têm.
- Assim
seremos salvos das garras do chifrudo?
- Certamente,
meus irmãos, Não levem nada com vocês, a não ser a bondade e o amor.
A noite foi
chegando e os fieis foram se afastando para suas casas, a fim de se despirem
dos seus bens materiais, conforme orientação do mestre profeta Chiquinho.
Um novo dia
raiou e novamente o profeta Chiquinho estava na rua com sua pregação do
apocalipse.
- O mundo vai
acabar, o fim está próximo.
Novamente as
pessoas se reuniram à sua volta, porém agora, não portavam nada de valor. Não
havia, bolsa, relógio, aneis e celulares, somente a roupa do corpo.
- Será hoje o
dia do juízo final, profetizou o pobre homem.
- O que
faremos agora, oh amado profeta?
- Aguardemos
as trombetas e os cavalos alados.
Assim que
acabou de falar, uma forte chuva desabou sobre a cidade.
- É este o
sinal, glorioso profeta? Perguntou um magricela já todo molhado.
- Sim, meus
irmãos. Começa agora a separação de quem vai subir e quem vai descer.
Por horas a
multidão ficou ali. A chuva passou e mais nada aconteceu. Chiquinho não perdia
a pose, com seu cartaz todo manchado pela água da chuva, ele continuava a
gritar.
- O fim está
próximo.
Chegou a noite
e cada um foi para a sua casa, pensavam que não haveria o dia seguinte.
Pela manhã, todos
estavam de volta à rua, porém o profeta Chiquinho não apareceu. A multidão, já
desacreditada nas profecias de Chiquinho, se revoltou e foi até a casa do falso
profeta.
- Profeta de
meia tigela, gritava uns.
- E agora o
que vou fazer? Dei tudo que tinha para ser salvo e o mundo não acabou, gritou
um gordinho de bochechas vermelhas.
Chiquinho não
ouviu a gritaria em frente a sua casa, pois dormia profundamente com o forte
calmante que a esposa lhe deu. Porém, dona Madalocilena estava preocupada com o
rebuliço em frente a sua casa, acabariam depredando tudo e até, quem sabe,
seria agredida junto com o marido.
- Atenção!
Gritou Madalocilena ao abrir a porta para enfrentar a multidão furiosa.
- Onde está o
falso profeta? Voltou a falar um dos insatisfeitos.
- O profeta,
falou a mulher chorosa, morreu durante a noite.
- Oooohh!
Ouviu-se da multidão.
- O profeta
morreu, voltou a falar a mulher, ele estava certo, o fim estava próximo. A
profecia dele era verdadeira, porém era apenas para ele. O mundo dele acabou.
Sinto muito se o mundo de vocês continua, porém o meu também vai acabar sem a
presença de Chiquinho, meu marido.
- Desculpa,
senhora, nós pensamos que todo o mundo acabaria, não soubemos interpretar o
profeta, que Deus o tenha.
Sem pressa foi
cada um pro seu lar. Teriam de começar tudo de novo até que um novo profeta
aparecesse.
- E agora, o
que vou fazer? Falou Chiquinho para a esposa, após acordar e saber do ocorrido.
- Se você
aparecer na rua, pode ter certeza que vai ser linchado.
- Então eu não
saio mais de casa.
- Tenho uma
ideia melhor, vamos nos mudar para outra cidade.
- Mudar?
Mas...
- É mudar
ou... Bem, você quem sabe, falou a mulher virando as costas.
- Tudo bem,
sussurrou Chiquinho dando o braço a torcer.
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
Outras obras do autor:
Compra-se vida –
Ficção religiosa
Fragmentos de uma
vida – Autobiografia
Áxis a síndrome
sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde
em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore
de amigos - Infantil
Historinhas que
ninguém lê - Contos
O dia da minha morte
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Senhor X – Romance
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