CHICO FRANCISCO NUMA FRIA




CHICO FRANCISCO NUMA FRIA

Tudo ficou claro e eu abri os olhos lentamente. Pisquei várias vezes, vi o teto com telhas de amianto, velhas e com vários furos.
Tentei recordar onde eu estava e ao virar de lado deparei com uma mulher morena, obesa, cabelos em desalinho que me falou com um sorriso faltando dois dentes na frente e vários dos lados:
- Oi, meu amor! Dormiu bem?
- Heim! Quem é você?
- Eu sou a sua Marcelinha...
- Marcelinha? Onde eu estou? Falei me sentando na cama e sentindo uma baita dor de cabeça.
- Meu amorzinho está na minha casa.
- Como eu cheguei aqui?
- Ah! Vai dizer que você não se lembra dos nossos dias de amor?
- Amor? Eu disse me levantando rápido para sair dali.
- Calma aí, gatão!
- Minhas roupas, onde estão as minhas roupas? Gritei ao ficar de pé e ver que estava pelado.
- Só um momento que eu vou buscar, meu gatão.
Assim que a mulher saiu de perto, eu sentei na cama e tentei lembrar como tinha ido parar ali. Só me lembro que estava bebendo com os amigos no cospe grosso da esquina de casa.
- Aqui estão as suas roupas, falou a morena pesada me entregando algumas peças de roupa.
- O que foi que aconteceu? Perguntei vestindo rapidamente minhas roupas.
- Ah, bobinho! Passamos vários dias fazendo amor, acho até que eu estou grávida.
- Grávida? Quanto tempo estou aqui?
- Hum... umas duas semanas.
- Não é possível, eu não lembro de nada.
- Pior pra você, eu me lembro de tudo.
- Tudo?
- Tudinho, amoreco.
- Eu preciso ir embora.
- Pode ir, mas você vai voltar e me implorar para fazer amor contigo.
- O que? Você está louca?
Acabei rapidamente de amarrar os sapatos e saí pela única porta que tinha o barraco. Alcancei a rua, quero dizer, viela, e um negão com uma metralhadora nas mãos sorriu para mim.
- E aí Chicão, como está tratando a “Mamá”?
- “Mamá”?
- Não se faz de tonto, cara. Está tratando bem a minha irmã Marcelinha? Falou o homem apontando a arma para meu peito.
- Bem... titubeei eu, Marcelinha é tua irmã?
- Sim, é minha irmã e tu falou que ia fazê-la feliz, lembra?
- Eu falei?
- Cara, é melhor você voltar lá e fazer minha irmãzinha feliz, se não... Você nem queira saber o buraco que esta gracinha aqui faz numa cabeça, falou apontando para a metralhadora.
Assustado, voltei para o barraco onde a morena obesa, já de roupas íntimas, me aguardava com um sorriso safado naqueles enormes beiços.
- Vem aqui meu amorzinho, eu não disse que você voltaria?
A mulher foi falando e me agarrando. A baba escorria pelos cantos daquela enorme boca. Eu fiquei desesperado, se eu fugisse o marginal com a metralhadora poderia me matar, se eu ficasse, certamente aquele mulherão insaciável, me mataria de tanto fogo.
- Não, Marcelinha! Assim não. Marcelinha, vai com calma.
- Vem aqui meu amor! Eu te quero tanto. Me chama de gostosa, de tesão e diz que vai me amar.
- Marcelinha tesão, Marcelinha gostosa. Marcelinha, eu quero te amar, Gritei eu, sendo envolvido por todos os lados.
Repentinamente senti uma dor nas costelas. Abri os olhos e minha esposa estava sentada na cama com as mãos na cintura e com um olhar enfurecedor.
- Quem é essa tal de Marcelinha, Francisco?
Finalmente, eu estava salvo.
Foi só um sonho.



Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor

Outras obras do autor:
Compra-se vida – Ficção religiosa
Fragmentos de uma vida – Autobiografia
Áxis a síndrome sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore de amigos - Infantil
Historinhas que ninguém lê - Contos
O dia da minha morte – Romance
Num piscar de olhos – Suspense

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