O SEGURO
Depois de
muitos anos de casados, Fausto e Janete estavam em crise matrimonial. Aos olhos
da esposa, Fausto andava pulando a cerca, pois toda quinta feira ele dizia que
ficaria até mais tarde no serviço para adiantar o trabalho. Só mesmo uma idiota
para acreditar nesta história, pensava Janete. Na verdade o homem não estava
pulando a cerca, ele simplesmente tirava uma folga da mulher e ia com alguns
amigos assistir futebol na casa de um deles que tinha TV a cabo.
Com a
desconfiança, a mulher resolveu se vingar do marido traidor e deu bola para o
gerente de onde ela trabalhava em meio expediente. Astolfo era um senhor
bem-educado, bem-vestido e o mais importante, tinha dinheiro para gastar. No
início, Janete levou tudo como se fosse apenas uma vingança, porém acabou se
apaixonando pelo gerente e o seu relacionamento matrimonial foi por água
abaixo.
- Fausto, eu
quero o divórcio, falou a mulher secamente numa segunda feira.
- Divórcio? Do
que é que você está falando, mulher?
- Eu decidi
não aceitar mais a sua infidelidade e quero viver a minha vida.
-
Infidelidade? Eu sou o homem mais fiel deste mundo.
- Tá legal, eu
acredito, disse a mulher cinicamente, mesmo assim eu quero o divórcio.
- Mas o que
foi que eu fiz? Tudo bem que já não sou um touro na cama, mas também não sou
uma gazela. Não deve ser só isso... Acho que você é que está me escondendo
alguma coisa.
- Eu? Não
estou escondendo nada, só não te amo mais.
- Ah! Então é
por isso que você estava usando batom todo dia. Eu já tinha notado uma mudança
no seu comportamento, tem outro na história, não é mesmo?
Pega de
surpresa, a mulher tentou dissimular, porém não tinha vocação para atriz e
chegou até a gaguejar. Estava nítido que ela tinha um caso e estava arrumando
uma desculpa para pedir separação.
- Diga a
verdade mulher, você tem outro?
- Eu? Outro?
- Sim, Você
tem outro e quer me largar por causa dele.
- Bem, na verdade,
disse a mulher se aprumando e decidida a falar a verdade, eu conheci um homem e
pretendo buscar uma vida melhor com ele.
- Tudo bem, se
é isso que você quer, tá liberada, pode viver o seu grande amor.
- Jura? Você
não vai ficar me pentelhando?
- Não, agora
eu não vou mais precisar dizer, que estou fazendo serviço extra, vou poder ir
direto para a casa do Pedro para assistir os jogos de futebol toda quinta
feira.
- Futebol? E
eu pensando que você estava se divertindo com outra.
Até que não
foi difícil a separação do casal, mas Fausto ficou magoado com a infidelidade
da mulher. Por outro lado, ele estava livre para fazer qualquer coisa que desse
na telha.
Duas semanas
após a separação, Fausto estava irritado com a falta da mulher. A comida não
ficava pronta sozinha, a roupa não lavava sozinha e o pior, não tinha alguém se
preocupando com ele diariamente. Foi durante estes pensamentos que o telefone
tocou:
- Alô! Aqui é
o Dr. Ricardo, advogado. Eu tenho em minhas mãos a ficha de dona Janete, ela
mora ai?
- Sim, Quer
dizer não. Bem... Qual é o problema?
- É que dona
Janete fez um seguro há três anos e ela tem direito a receber o prêmio previsto
no contrato.
- Prêmio? De
quanto é que a gente está falando?
- Trinta e
cinco mil reais, a ser pago em dinheiro.
- Pois é, foi
eu quem insistiu para ela fazer este seguro, mentiu Fausto querendo tirar
proveito da situação.
- O senhor é
marido dela? Falou o doutor advogado.
- Claro! Só
que no momento ela está visitando a mãe dela que está doente, mentiu o homem
descaradamente.
- Não tem
problema, o senhor pode receber por ela, já que são casados.
- Quando é que
eu posso pegar a grana, quero dizer, receber o prêmio do seguro.
- Pois é
justamente aí que está o problema, Dona Janete deixou de pagar as duas últimas
mensalidades do seguro e ela só terá direito a receber o prêmio, se acertar os
atrasados.
- Não tem
problema, de quanto estamos falando?
- Bem...
Deixe-me ver... Novecentos e dez reais.
- Novecentos e
dez?
- É, mas eu
deixo por novecentos.
- Mas como eu
faço para acertar esta conta?
- Eu passo aí
na sua casa, recebo o dinheiro e volto para o escritório, assim que for lançado
no sistema o senhor pode pegar o seu prêmio, quer dizer, o prêmio de dona
Janete.
- Ótimo! Pode
passar aqui em casa ainda hoje que eu vou acertar a conta.
- Obrigado
senhor, já estou indo para aí.
Rapidamente
Fausto providenciou o dinheiro. Só pensava na grana que ia receber e certamente
não falaria nada com a sua mulher, quer dizer, ex-mulher. Com trinta e cinco
mil reais ele compraria um carro novo e colocaria TV a cabo em casa. Até que o divórcio
teria a sua vantagem, sonhava o cornudo.
Um homem de
terno e gravata, com uma pastinha de couro se apresentou como Dr. Ricardo.
Entrou, se sentou no sofá e foi direto ao assunto:
- O senhor
está com o dinheiro?
- Mas é claro,
novecentos reais, certo?
- Certíssimo.
Agora o senhor espera vinte e quatro horas, que é o tempo para o pagamento
entrar no sistema e depois liga para este número, disse o doutor advogado
passando um número de telefone para Fausto.
- Eu ligo
amanhã e vou receber o valor do prêmio quando?
- Amanhã mesmo
e em dinheiro.
- Ótimo! Muito
obrigado por tudo e passe bem Dr. Ricardo.
Feliz da vida,
Fausto já sonhava com o carrão que compraria. Não seria um carro qualquer,
seria um carro com ar-condicionado e na cor azul, ele adorava a cor azul.
No dia
seguinte, ansiosamente o homem ligou para o telefone da empresa de seguros.
- Alô! É da
empresa de seguros? Eu quero saber se já posso ir buscar o prêmio do seguro.
- Espere um
momento senhor, aqui não tem nenhuma empresa de seguros, aqui é uma funerária.
- Funerária?
Fausto se assustou e pediu para confirmarem o telefone. Não havia dúvidas,
aquele era o telefone para onde ele deveria ligar para reclamar o prêmio do
seguro.
- Desculpe
senhor, disse a voz do outro lado do telefone, mas não é aqui, de vez em quando
alguém liga para cá procurando por essa empresa de seguros. Acredito até que
seja algum tipo de armação, pois todos que ligam dizem que têm dinheiro a
receber.
Fausto não
acreditava no que estava acontecendo, foram novecentos reais gastos
precipitadamente na intenção de ganhar trinta e cinco mil reais. Está na cara
que tinha sido tapeado. Não havia seguro nenhum.
Além de
corno...
Era otário.
Francisco de Assis D. Maél
Médico & Escritor
E mail: franciscomael@yahoo.com.br
Outras obras do autor:
Compra-se vida –
Ficção religiosa
Fragmentos de uma
vida – Autobiografia
Áxis a síndrome
sagrada – Ficção Científica
Missionários da saúde
em ação – Orientação à saúde
MANA-YAM e a árvore
de amigos - Infantil
Historinhas que
ninguém lê - Contos
O dia da minha morte
– Romance
Num piscar de olhos –
Romance
Dívidas de gratidão –
Romance
Senhor X – Romance
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